top of page

Mortos Vivos do Futebol: Roberto Batata

Imagem: reprodução de redes sociais
Imagem: reprodução de redes sociais

Roberto Batata

(1949 – 1976)

 

Roberto Batata acelera seu Chevete verdinho pela Fernão Dias. É fim de tarde e ele está muito cansado. A placa no acostamento indica que cruza o quilômetro 182, na altura de Santo Antonio do Amparo, Minas Gerais.


Faltam 111 quilômetros para seu destino, Três Corações. Por alguns poucos segundos, ele se rende ao cansaço. Fecha os olhos. A cabeça tomba por um segundo. Na outra pista, em sentido contrário, se aproximam dois caminhões.


        *

Roberto Monteiro nasceu em Belo Horizonte no dia 24 de julho de 1949. Sua primeira camiseta foi a do time amador do Banco da Lavoura onde começou a perceber suas próprias armas no gramado: rapidez, impulsão e um canhão no pé.


Sua segunda camiseta por 281 partidas foi a definitiva, com as cinco estrelas brancas sobre o fundo azul. Roberto era um “gato”, com 17 anos, e se fez passar por outro jogador para permanecer no time base do Cruzeiro. Em 1971 ganhou sua vaga no time principal. Um dia o técnico João Crispim observou a fúria com que aquele garoto mulato atacava um prato de batatas fritas. O apelido nasceu ali.


O garotão tinha 21 anos quando estreou, já internacional, num amistoso contra o Peñarol em Montevideo. O Cruzeiro perdeu de 1 a 0. Mas o novo ponta havia chegado para ficar. Ganhou quatro campeonatos mineiros seguidos entre 1971 e 1975. Em seguida tomou fôlego para tentar importar o primeiro título internacional para a Toca da Raposa num time de craques.



Imagem: reprodução redes sociais
Imagem: reprodução redes sociais

O Cruzeiro estava arrasador na Libertadores da América superando o Internacional, o Desportivo Luqueño e o Olímpia). No dia 11 de maio Roberto estava em Lima, Peru. O primeiro jogo da semifinal contra o Alianza, ficou registrado em detalhes numa reportagem Sergio Carvalho em Placar. Os peruanos jogaram completamente retrancados e o primeiro tempo acabou em 0 X 0. No fim do intervalo, “Roberto Batata foi o primeiro a aparecer no túnel. Desviou-se de uma espiga de milho solta por ali, sorriu, foi entrando no belo gramado do estádio do Alianza. Atrás dele vinham Palhinha, Nelinho, Raul Plasman”.


Aos 17 minutos do segundo tempo a retranca desabou. Passe de Palhinha, chute de Roberto Batata no ângulo. Seu 110º - e último gol. Roberto Batata vivia suas últimas 48 horas de vida. No dia seguinte Nelinho e Batata acordaram tarde e chegaram atrasados no aeroporto de Lima. O técnico Zezé Moreira deu uma senhora bronca nos dois antes da decolagem. Da Placar: “Na volta ao Brasil, nas quatro horas e meia até o Rio, ele reclamava. Tinha pressa, que a saudade da mulher Denise e do filho Leonardo era grande”. O filho tinha então só 11 meses de idade.


Depois de uma odisséia de atrasos em vôos e aeroportos, Roberto Batata finalmente chegou a Belo Horizonte no dia 13 de maio de 1976. Não quis saber de badalação. Ligou para o pai, Geraldo Monteiro e avisou que ia buscar a mulher e o filho em Três Corações. Seu Geraldo fez um pedido: “Por que não telefona e pede a ela que venha de ônibus? Você está cansado, meu filho”.


Nada feito. Roberto partiu no seu Chevete verde. Exausto pelo jogo e pela longa viagem cheia de escalas desde Lima, resolveu enfrentar os 293 quilômetros até a cidade onde nasceu Pelé. No quilometro 182, ao que tudo indica, dormiu ao volante. O Chevete foi para a contra mão e bateu de lado no primeiro caminhão. Aí, perdeu o controle de vez e se espatifou de frente no segundo. Roberto morreu no mesmo instante.


O velório na sede do Cruzeiro foi um desespero só entre familiares e os colegas cruzeirenses. Choravam Nelinho, Dirceu Lopes. Eduardo, Raul, Piazza, Palhinha. Batata foi enterrado no Cemitério do Bonfim, lá mesmo na sua BH natal. O futebol mineiro ficou de luto, e o campeonato estadual foi suspenso por duas semanas.


Roberto Batata morreu aos 27 anos por gostar demais da família. Uma semana depois do acidente aconteceu o jogo de volta contra o mesmo Alianza. A camisa de Roberto Batata foi colocada na pista ao lado do gramado do Mineirão enquanto um piston solitário tocava uma música fúnebre para milhares de cruzeirenses emocionados.


Batata foi homenageado com mais uma vitória sobre o Alianza – 7 (4 de Jairzinho, 3 de Palhinha) a 1. Sete era o número de sua camisa. A máquina azul seguiu em frente e ganhou a Libertadores daquele ano contra o River Plate, em Santiago do Chile.

No final do jogo, antes da volta olímpica, todos os jogadores do Cruzeiro se ajoelharam no gramado – e rezaram por Roberto Batata.



Imagem: reprodução X/Twitter
Imagem: reprodução X/Twitter

Roberto Batata é um dos homenageados pelo livro Os Mortos Vivos do Futebol, reunindo colunas de Dagomir Marquezi para a revista Placar. Para comprar, clique aqui.



Comments


bottom of page